Pensando o futuro

Para Wolfart, os agricultores precisam incorporar e lutar firmemente pela inovação. Foto: Revista Globo Rural


Na primeira quinzena de abril de 2014, a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT) promoveu reunião com todos delegados dos núcleos regionais, discutindo temas ligados ao futuro da produção agrícola estadual. O desafio posto é o enfrentamento da realidade dos meios disponíveis, com a crescente necessidade de produção sustentável e atendimento das demandas do mercado global. Em uma década, Mato Grosso poderá dobrar a produção de grãos mantendo intocados, mesmo assim, 62% de seu território com sua cobertura vegetal original.

Os desafios são outros, como o do exemplo da comunicação entre as bolsas de Nova York e a de Chicago, feita por uma conexão de fibra óptica denominada Spread Network. Uma ordem de compra/venda entre elas é concluída em 13 milissegundos. São operações de alta frequência, menores do que um piscar de olhos, enquanto o agricultor entre planejar, plantar e colher leva 360 dias.

Como enfrentar essa realidade em que alguns, tão poucos, realizam lucros extraordinários, alicerçados tão somente em um bom programa de algoritmos, base computacional e de transmissão de dados? Ao aceitar o desafio de produzir e ter renda, os agricultores precisam incorporar e lutar firmemente pela inovação, chave de seu sucesso e permanência na atividade. O modelo de produção se sustentou até agora, mas envelheceu e precisa ser substituído por outro.

As palavras estratégicas dessa mudança são: biotecnologia, nanotecnologia, controles naturais de pragas e doenças, além da gestão de controle como é feito na Austrália. Para fora da porteira é necessário que o governo federal aumente os orçamentos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa); tenha agilidade técnica na liberação de novas moléculas de defensivos; aumente o preço mínimo do milho e da soja e o orçamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) - para que seja compatível com as demandas de proteção legal aos produtores e à segurança alimentar da população brasileira.

O Legislativo Federal deverá rever as leis de Propriedade Intelectual e a de Proteção de Cultivares, à luz da atualidade quando há diferentes tecnologias e domínios em um mesmo “grão”, objetivando conferir transparência e razoabilidade na cobrança de royalties. Se tal não acontecer, aumentarão as demandas legais porque essa lacuna se traduzirá na oportunidade de cobranças indevidas como em passado recente, com uma vertente colonialista de apropriação da renda dos produtores.

Os gestores da Aprosoja e dos notáveis especialistas da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), presentes e ativos participantes dos debates ocorridos, conferem certeza quanto à visão técnica e política do trabalho que há pela frente. Não há maus ventos para quem sabe navegar, como dizia Sêneca há dois mil anos.


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Rui Alberto Wolfart é engenheiro agrônomo, especializado em administração, ex-gestor público na área fundiária e produtor rural em Mato Grosso.
* Artigo publicado no canal Agrodebate (G1), em 14/04/2014

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