Mato Grosso ocupa o primeiro lugar no ranking nacional de produção de soja, milho, carne bovina e algodão. Também se destaca na produção de açúcar e etanol e é campeão no frete e nos altos impostos. Mas isso, apesar de ainda ser um grande desafio, não impede o desenvolvimento de outras cadeias, como é o caso do plantio de florestas.
O Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) demonstrou em um estudo que o Estado apresenta um grande potencial para o plantio de florestas comerciais - alternativa que contribui na recuperação de áreas degradadas e reduz as emissões de gás carbônico na atmosfera.
Pouca gente sabe, mas Mato Grosso também se sobressai neste setor, já que é o maior produtor de teca do Brasil (64,82 mil hectares). O plantio de eucalipto também está crescendo, pois a espécie é usada principalmente como fonte de energia primária para secagem de grãos, esmagamento de soja, indústrias frigoríficas e para aquecer aviários.
A produção de eucalipto ainda é secundária na maioria das propriedades agropecuárias de Mato Grosso. Além disso, um terço do aproveitamento da madeira é para consumo próprio nas fazendas. Mas o estudo do Imea identificou que, embora os custos sejam altos e os incentivos baixos, plantar floresta é viável economicamente e contribui positivamente com o meio ambiente.
Existe espaço para investir na silvicultura. Atualmente, o Estado possui 15 milhões de hectares de pastagens com aptidão agrícola. Além da produção tradicional, uma das alternativas para ocupar esta área é por meio dos sistemas de integração, como a integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), que permite a recuperação de áreas de pastagens degradadas agregando, na mesma propriedade, diferentes sistemas produtivos como grãos, carne, leite, fibras e agroenergia.
Mas vale alertar que os custos com o licenciamento para iniciar a produção infelizmente ainda são muito altos quando comparados a Estados como Rondônia e Pará. As taxas em Mato Grosso, por exemplo, são quatro vezes superiores às de Rondônia e quinze vezes maiores do que no Pará. Exemplificando um caso extremo, quem produz 100 mil hectares de eucalipto em Mato Grosso paga 400 mil reais somente de taxas para legalizar a atividade, enquanto os rondonianos e paraenses investem 100 mil reais e 15 mil reais, respectivamente, para a mesma finalidade.
Aliás, este drama dos impostos não é exclusivo da silvicultura. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), publicado no final de 2013, verificou que o agronegócio em Mato Grosso contribui com 50% da arrecadação estadual de ICMS. E, apesar disso, ainda é o Estado que possui a maior carga tributária em relação ao Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás e Bahia. Se aplicarmos a legislação tributária de Mato Grosso na Bahia, por exemplo, verificaremos que o ICMS mato-grossense é 58% mais caro.
Como é possível observar, os desafios para produzir soja, milho, algodão, carnes e até floresta em Mato Grosso são grandes. As perspectivas para aumentar a produção dessas culturas existem, são visíveis e merecem a atenção dos poderes públicos. No caso do plantio de florestas, em especial, o setor continuará em desenvolvimento, tanto do ponto de vista econômico quanto social e ambiental, quando houver mais incentivos para produtores e indústrias, redução no valor do frete e dos impostos e formação de mão de obra especializada.
*Rui Prado é produtor rural em Mato Grosso, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato)
Fonte: Sistema Famato